A busca por experiências personalizadas consolidou um novo momento no turismo de alto padrão, e os agentes de viagens têm papel central nessa transformação. Essa foi a tônica do painel “O luxo no inusitado”, realizado no 4º Abav MeetingSP, no hotel Meliá, em São Paulo.
Mediada por Danielle Coltro, diretora da Coltro Viagens, a discussão reuniu três vozes influentes do segmento: Martin Frankenberg, cofundador da Matueté; Thiago Vasconcelos, diretor executivo da Pier 1; e Ruy Carlos Tone, empresário especializado em experiências na Amazônia.
O consenso entre eles foi claro: o “novo luxo” não se define mais por etiquetas ou destinos clássicos, mas por vivências únicas e o agente de viagens é o elo que transforma desejo em realidade.
Durante o debate, Frankenberg destacou que o luxo, para o viajante de alto padrão, está cada vez mais ligado à raridade. “O milionário tem outro parâmetro. Para ele, luxo pode ser simplesmente desconectar da vida digital com a família. É a raridade que define o que é luxo, não o preço”, afirmou.
Ruy Carlos Tone reforçou a mudança de paradigma ao diferenciar o luxo tradicional, atrelado a marcas famosas e hotéis icônicos do luxo contemporâneo, que valoriza intensidade e autenticidade.
“Hoje, a riqueza permite que as pessoas busquem vivências inusitadas, que desafiam o comum. A junção de um lugar remoto com uma experiência brutal virou luxo”, disse.
Para Thiago Vasconcelos, o termo “luxo” ganhou várias camadas, mas uma característica permanece: exclusividade. Ele observa que a migração do consumo material para o consumo de experiências ampliou a responsabilidade do agente.
“Trabalhamos com produtos de altíssimo nível e destinos muitas vezes inacessíveis. O agente é fundamental para filtrar esse universo sem marcas conhecidas”, analisou.
A forma de viajar também entra na equação, como destacou Frankenberg ao citar exemplos extremos: “Subir o Everest custa US$ 100 mil. Não existe conforto ali, mas a exclusividade torna a experiência luxuosa.”
O novo papel do agente de viagens
Mesmo na era digital, o profissional segue indispensável e mais requisitado. Os painelistas foram unânimes: o agente de viagens se tornou um curador, especialmente para um público saturado de conteúdos irreais nas redes sociais.
“Vivemos cercados de viagens irreais. Nosso papel é filtrar e guiar. O tempo é o ativo mais valioso do cliente de alto padrão”, afirmou Vasconcelos. Frankenberg comparou o agente a um gestor de patrimônio: “Ele é o gerente de banco do nosso tempo livre, que é escasso.”
Para Tone, essa mudança exige vivência e preparo. “No luxo clássico, você recomendava marcas de olhos fechados. No novo, nada garante que uma experiência será boa. O agente precisa sentir na pele, testar, compreender nuances.”
Sustentabilidade como eixo transformador
A discussão também passou pela sustentabilidade, cada vez mais presente na decisão do viajante de luxo. Tone ressaltou que experiências genuínas têm potencial de despertar consciência: “Ao ver comunidades ribeirinhas, a relação delas com a natureza, o viajante não precisa ouvir discursos. Ele sente.”
Frankenberg apresentou a ONG ligada à Matueté, que busca “amazonizar” o olhar dos visitantes. “Quem chega de grandes centros confunde o simples com o simplório. Nosso papel é mostrar o oposto: o conhecimento profundo dessas comunidades. Estamos no começo de uma transformação importante”, afirmou.
O painel reforçou a força de um mercado que cresceu, se diversificou e agora exige sensibilidade, curadoria e autenticidade, elementos que reposicionam o agente de viagens como figura essencial no turismo de alto padrão.






